terça-feira, 29 de janeiro de 2019

É feliz quem perdoa?

"Poderá parecer que este ensinamento é impraticável,  que é exigir demais da natureza humana.  E, contudo,  que faz toda mãe,  que faz todo pai? (...) no mesmo espírito de solidariedade,  o Sermão incita-nos a que procuremos amar a todos nossos semelhantes.  Na luta pelo domínio de si  mesmo,  o Sermão propõe-nos um pacto solene - que o Pai só nos perdoará as ofensas na medida em que perdoamos aos outros as ofensas que nos fizerem.  Uma vez experimentada essa doutrina,  tão pouco realista na aparência, logo revela a sua praticalidade."  A essência da felicidade    Martin Claret

Sim, é feliz quem perdoa. Muitas pessoas fazem de tudo para "pegar" aquela pessoa que acha que as ofenderam de alguma maneira. Os fariseus faziam isso. Eles observavam Jesus para encontrar com o que acusá-lo porque não suportaram as  verdades que Jesus dizia a eles. Até quando o convidavam para comer pão ou jantar em suas casas  não era hospitalidade,  era uma oportunidade de "pegá-lo".  Faziam de tudo para armar uma cilada. Achavam que seriam felizes assim: achando uma maneira de se vingar. O que é muito baixo.

E, continuando com a história de Sansão,  ele se apaixonou depois por outra mulher, do povo dos filisteus, do inimigo. Dessa vez,  o Senhor não estava nisso. Essa mulher era Dalila.

Os filisteus ofereceram 1.100 moedas de prata para que ela revelasse qual o segredo da força de Sansão.  O homem separado por Deus tinha uma força que o distinguia dos demais. E então ele passou a ser alvo. A força estava na separação,  era um nazireu de Deus.  E por ser nazireu praticava certos costumes que o santificavam e o separavam do mundo.

Então ela começou a forçar para saber. Começou a usar de diversas táticas para saber. Sansão tinha o segredo da separação de Deus , não deveria revelar, pois já uma mulher o tinha traído, por ele ter confiado no povo inimigo. Trazer o inimigo para dentro exige cautela. Sansão deveria ter aprendido.

De fato ele não revelou no início.  Parecia estar testando Dalila.  Ela dava os sinais que o traía.  Ele parecia ter aprendido a lição.  Mas talvez ele achou que era só coincidência, ou acreditou muito na força do seu próprio braço.  Nesses testes que Sansão fazia dava o que no jargão policial é a contra-informação.  Informava errado e via o que acontecia.

Mas enfim ela conseguiu.  Insistia em saber, importunava,  molestava,  e ele se angustiou até a morte.  Mesmo homens de Deus, separados como Sansão, se angustiam.  E desistem diante da insistência. Ele revelou o segredo ao inimigo  e perdeu.

Não revelar o que não interessa, nem é necessário a pessoa saber não é questão de prejudicar ninguém,  nem resistir a insistência é prejudicar.  Muito pelo contrário,  o certo era não revelar o que não era necessário. Para que Dalila precisava saber de onde vinha a força de Sansão?  Ela seria de alguma forma prejudicada se ele não revelasse?  Seria bullying não revelar?  Claro que não.  Bullying é pegar o dado à força,  molestar a alma de alguém e angustiar alguém até a morte para que a pessoa ceda. Bullying foi o que Dalila fez com Sansão.  Ela que foi agressiva e invadiu o espaço dele. Ele apenas estava preservando o espaço dele enquanto não dizia.  Estava apenas sendo assertivo e preservando uma informação que ela não precisava saber.

E quando soube, usou o dado contra Sansão, traindo-o por 1.100 moedas de prata. Ela sim, usando um motivo vil e baixo, comprada,  e sabendo exatamente o que fazia. Não é incomum pessoas serem compradas e vender o outro. Dalila foi comprada e vendeu Sansão.  Judas vendeu Jesus por 30 moedas. Quem desconfiaria que a esposa trairia o marido?  Ou que o discípulo trairia o Mestre?

Os mais atentos sim. Mas os inocentes, coitados...  Coitados em parte, porque "vendem" os outros.  Uns por um preço mais alto,  como Dalila.  Outros por um preço mais baixo,  como Judas. Outros, por carências pessoais.  Cada um com o seu preço.  O manipulador só precisa descobrir o preço da pessoa. Raras são as pessoas que não tem preço.

E estar atento não é não perdoar.  Devemos sim perdoar o manipulador e o manipulado para sermos felizes,  mas Jesus nunca disse que devemos ser bobos.  Dar a outra face  não é deixar de dizer verdades necessárias.  Jesus disse verdades aos fariseus o tempo todo. Ele estava deixando de perdoar os fariseus?  De maneira alguma,  ele os perdoava,  mas Jesus avaliava os valores.  E era mais valoroso alertar o povo acerca desses falsos religiosos.  Ele sofreu, sim,  mas foi feliz por ter feito o que deveria fazer. E isso não é vingança contra os fariseus, não é falta de amor pelos fariseus. Muito pelo contrário,  era amor aos outros que eram vítimas dos fariseus.  Ele se deu como sacrifício para que as pessoas tivessem um verdadeiro encontro com Deus,  que era longe da maneira como os falsos religiosos ensinavam. Então, por amor, Jesus foi assertivo com os fariseus. E não seria falta de perdão ou falta de amor Sansão ser firme com Dalila, seria apenas prudência.

Nenhum comentário:

Postar um comentário