"Gostam de trabalhar em problemas longos e complexos e prestam bastante atenção aos detalhes; precisam entender exatamente por que estão executando alguma atividade; não gostam de intromissão e nem de interrupções; precisam pensar e refletir antes de falar e agir; trabalham sozinhos de bom grado; podem ficar relutantes em delegar; preferem ficar em sua baia ou sala a se socializar; não gostam de atrair a atenção a si mesmos; trabalham bem sob pouca supervisão; podem ter dificuldade em lembrar nomes e rostos." A vantagem do tímido. Marti Olsen Laney
Entendo que os extrovertidos ficarão pasmos com a lista de características de Olsi. O que para eles parece castigo, para os introvertidos é diversão. Ora, por que alguém teria uma diversão totalmente diferente da maioria? Por que alguém acharia bom o que para outros parece castigo?
Poderíamos novamente recorrer à Bíblia. Havia algumas diferenças entre os primeiros cristãos e então eles foram instruídos a pensarem nos seres humanos como um corpo. Um corpo inteiro só de boca seria anormal. Alguns cristãos queriam que todos fossem iguais e queriam forçar sua visão de mundo aos outros. Se Deus criou com características diferentes é porque há um propósito, mesmo que os cristãos da época não estivessem entendendo. Como entenderemos Deus se nossa capacidade é limitada? Nós não conseguimos alcançar muitas coisas. É por isso que a Bíblia está aí, para nos guiarmos, para podermos captar aquilo que a nós parece tão difícil entender.
A metáfora do corpo ensina que um corpo precisa de boca, ninguém está dizendo que não é importante. No entanto, precisa de ouvido, que também é importante. Não é questão de desfazer do diferente, mas entender o papel de cada um. Todos importantes, porém diferentes. Porque a boca faz mais barulho, pode parecer que o ouvido é irrelevante. Mas não é só isso, até o dedinho do pé cumpre uma função. Quantas vezes não são desprezadas pessoas consideradas tão pequeninas como um dedinho do pé? E pensar que contribui para a base, para a sustentação do corpo. Assim é com qualquer outra parte.
Alguns poderiam argumentar que ser introvertido é uma escolha. E uma má escolha. Nesse livro, a autora é uma introvertida e estudou a fundo a questão, pois sentia que não se encaixava. Era como se as outras partes reclamassem do ouvido. Achassem que o ouvido não tem importância alguma e deveria ser exterminado. Ela ensina que a introversão não é uma escolha, o cérebro do introvertido tem uma estrutura diferente. É herdado e é biologicamente diferente: "a fisiologia de seu cérebro os predispõe a agir de uma maneira que pode contribuir para o fato de serem ignorados... Você se lembra daquela longa via neural no cérebro deles?" Ela explica que até a liberação de hormônios é feita de forma diferente para os introvertidos.
Assim, podemos afirmar que parte é DNA mesmo, outra parte é aprendido, é contribuição do meio em que a pessoa foi criada. Então, parte é escolha, parte é determinado. É possível que haja introvertidos talhados pela educação. E é possível que haja introvertidos que possuem um cérebro diferente mesmo. Mas a maior das apostas é dizer que somos os dois. Se é herdado, os pais são introvertidos e criaram e ensinaram os filhos assim. Essa deve ser a explicação para que numa família alguns filhos continuam a ser introvertidos enquanto outros, ao ter outras interações, se abrem mais.
Lembro-me de minha tia contar que desde que era bebê eu estranhava pessoas diferentes e chorava. Não aceitava outro colo que não de meus pais. Eu nem tenho lembrança disso. Mas como pode um bebê fazer escolhas? Eu não fiz o exame para ver se tenho a longa via neural no meu cérebro mas acredito que minha introversão seja herdada.
No que diz respeito a minhas escolhas, teve uma época que tentei me encaixar, achando que havia algo errado comigo, então imitava os extrovertidos. Fazia de tudo para parecer um deles, mas no fundo sabia que estava usando uma máscara. Não era minha essência, não me sentia bem. Era como se lutasse contra mim mesma. É um conflito querer ser alguém que não é. À medida que fui amadurecendo comecei a me amar como sou e a me questionar como posso contribuir para o mundo da maneira que sou, sem conflitos interiores. A questão do introvertido é como tornar o que o mundo extrovertido chama de fraqueza em fortaleza. Como fazer algo que aparentemente é ruim ser algo bom. É apenas mudar a visão. É como se o ouvido simplesmente deixasse de ouvir as queixas da boca que exigia que ele fosse boca e se assumisse como ouvido e assertivamente dissesse que o ouvido também tem sua função no mundo.
E quando mudamos nossa visão acerca de nós mesmos, nos aceitando e nos amando, conseguindo ver nossas qualidades e importância no mundo, então mudamos tudo. Pelo menos para nós. Talvez o mundo extrovertido ainda nos criticara, mas se nosso diálogo interior não nos condena, mas nos aceita, então conseguimos viver sem conflito interno. E achamos paz, muita paz. Não importa o quanto de barulho haja lá fora, o quanto nos criticam e não nos compreendem. E no quanto insistem que devemos usar uma máscara de extrovertidos e mudar nossa essência.
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